Avaliação sobre o empreendimento
O empreendimento apresenta diversas forças em relação às dimensões previstas pelo selo, em especial pelo caráter essencialmente artesanal, de produção própria, com uso de produtos de base vegetal, comprometimento com a redução de resíduos em todas as etapas e proximidade com produtores/fornecedores e consumidores. Reconhece-se que há muitos aspectos a serem melhor desenvolvidos e que ainda são deficitários para o cumprimento total dos requisitos do selo, no entanto, destaca-se o cumprimento de 80% dos critérios, além do potencial do empreendimento e da empreendedora em aprimorar os processos, que com o devido apoio e estrutura podem, potencialmente, atender a todos os critérios em um futuro próximo
Produtos certificados
Parecer por cada dimensão do selo
Um dos pontos mais relevantes do empreendimento nesta dimensão é o uso exclusivo de produtos in natura, minimamente processados e ingredientes culinários. Não há, portanto, uso de ultraprocessados e nem mesmo processados. Os produtos a serem certificados são feitos do princípio (from scratch – ‘do zero’), com a participação da empreendedora em todas as etapas que vão desde o planejamento, escolha, compra, armazenamento, processamento e comercialização dos produtos. O fato da maioria dos ingredientes serem in natura possibilita a compra em feiras diretamente com de pequenos produtores e de produtos locais, não havendo um recebimento de mercadoria em si. Isso está relacionado a redução de uso de transporte e embalagem da origem do insumo até a sua aquisição. Também proporciona relacionamento direto entre a empreendedora e seus fornecedores, gerando relaçãos de confiança e proximidade com os produtores/fornecedores. Parte dos produtos são sazonais, embora não sejam necessariamente de biomas do Brasil ou PANCs.
Por ser um empreendimento vegetariano/vegano, as práticas ambientais estão para além de uso racional na produção em si. O incentivo e oferta de produtos a base de vegetais pode ser um fator que auxilia na redução da emissão de gases de efeito estufa e no uso mais sustentável de água para produção de alimentos. Embora seja impossível mensurar o impacto específico do empreendimento nesse quesito, podemos sugerir que é uma iniciativa que ao menos contribui na possibilidade de redução de consumo de produtos de origem animal na alimentação de seus consumidores. A produção de produtos sempre frescos também é um diferencial que dispensa a necessidade de uso de conservantes, sendo utilizadas apenas técnicas de resfriamento e congelamento quando necessárias. O caráter artesanal dos produtos, com o envolvimento da empreendedora em todas as etapas garante uma gestão de estoque cuidadosa, atenta e eficiente, com uso de insumos sempre frescos, além do uso integral dos insumos.
O respeito, comprometimento e transparência com produtores/fornecedores e consumidores perpassa todas as ações do empreendimento, como a relação estabelecida entre os atores envolvidos, a valorização da qualidade dos produtos, a precificação justa e o caráter essencialmente artesanal dos processos.
Neste momento o bem estar social da empreendedora está comprometido, dado que teve que interromper as ações de seu empreendimento para mudar de cidade e ficou sem receitas provenientes da venda de seus produtos. Ainda não há formalização de MEI, o que planeja-se fazer ainda esse ano. Quanto à gestão de resíduos, há um esforço para a redução máxima desses resíduos, com aproveitamento integral dos alimentos, compra em feiras com uso de sacolas reutilizáveis.
Apesar de não atender ao aspecto imprescindível de gastronomia social, o empreendimento atinge todos os outros critérios dessa dimensão. Por ser um empreendimento muito pequeno, em que a própria empreendedora faz todos os processos do início ao fim (planejamento, compras, gestão de estoque, organização de pedidos, contato com consumidores e produção) e que passa por um processo de mudança de cidade (consequentemente de local de produção e clientela), ainda não vemos como possível a implementação de uma ação estruturada de gastronomia social pelo empreendimento. No entanto, essa mesma situação é uma força da dimensão afetiva, pois no aspecto do contexto de produção há um envolvimento muito próximo da empreendedora em todo o processo. Por ser vegetariana, a empreendedora também busca a valorização dessa cultura alimentar a qual possui grande vinculação afetiva com os produtos, como o caso do hamburguer de grão de bico, que sempre fazia para a sua irmã gêmea e que foi uma das preparações culinárias que a acompanhou nesse percurso de adotar uma alimentação vegetariana.
A marca é idealizada e gerida por uma mulher negra LGBTQIA+. Por ser um empreendimento muito pequeno, não há colaboradores/as fixos/as, apenas a entregadora do delivery, que é uma mulher LGBTQIA+. Apesar do enorme comprometimento da empreendedora com os temas de diversidade, ainda há uma deficiência nas ações de comunicação e propaganda sobre os temas, no entanto, há um plano de modificar a maneira como a marca é apresentada no instagram (único espaço de comunicação da marca) para abordar outros temas além de imagens dos pratos comercializados e usar o recurso de humanização da marca mostrando quem está por trás das atividades e valorizando sua identidade, além de abordar temas como vegetarianismo, negritude e diversidade sexual.